domingo, 13 de fevereiro de 2011

Petista diz que não fará concessões

Na entrevista para os jornais argentinos publicada neste final de semana, Dilma Rousseff (PT) reafirmou que não fará concessões na área de direitos humanos, e disse que o Brasil ainda tem dívidas a respeito disso. “Não tenho problema em dizer se algo vai mal por lá, ou por aqui também”. Ela admitiu ainda que teve uma divergência com o Itamaraty na questão. “Não vou negociar os diretos humanos, digo que não haverá concessões nesse tema.”
Sobre as tensões entre o Brasil e os Estados Unidos por causa da questão iraniana, Dilma indicou que, para ela, o caso é página virada. “Tivemos uma boa experiência nos últimos anos [com os EUA] e também tivemos diferenças de opinião. Mas, o que importa é perceber que esta é uma sociedade que tem um horizonte de desenvolvimento muito grande”, disse. Mesmo criticando a condenação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani por apedrejamento, Dilma lembrou, porém, que os EUA também tiveram problemas com os direitos humanos com os casos de Abu Ghraib e Guantánamo. “Muitas vezes, utilizam os direitos humanos não para nos protegermos, mas para fazer política, para usá-los como instrumento político.”
Sobre Cuba, a presidente avaliou que o partido deu um passo para frente ao libertar prisioneiros políticos.
“Mas, é preciso respeitar o tempo deles. A política se faz em condições de determinada temporalidade. Em Cuba, há um processo de transformação.” Para a presidente, as violações dos direitos humanos devem ser discutidas amplamente e não tratadas apenas como problema de um país.
Mães e avós
Sempre cautelosa nos debates sobre ditadura, Dilma, ex-torturada, tem encontro marcado hoje com as líderes das organizações das Mães e Avós da Praça de Maio. A expectativa é que ela ganhe um lenço, símbolo das representantes das duas entidades que cobram o julgamento dos responsáveis por sequestros, torturas e assassinatos de civis durante o regime militar argentino (1976-1983).
Dilma pediu aos organizadores da viagem que o encontro fosse discreto. A presidente temia que sua viagem à Argentina se transformasse numa viagem à história do Brasil, encenando um “acerto de contas”, disseram diplomatas. Ela retirou da agenda uma visita à Escola de Mecânica da Armada (ESMA), atualmente um centro de memória da ditadura argentina, onde cerca de 5 mil civis foram torturados.
Diferentemente da colega Cristina Kirchner, que fez dos julgamentos a torturadores bandeira de governo, Dilma procurou se afastar do tema ao longo de sua trajetória pública. Durante a ditadura no Brasil, ela entrou para a guerrilha, foi detida e ficou presa de 1970 a 1972. Poucos anos depois, em 1976, militares deram golpe de Estado na Argentina. A então estudante de direito de Buenos Aires Cristina Kirchner e seu marido, Néstor, não participaram da luta armada. Assustados, os dois mudaram-se para a província de Néstor, Santa Cruz, na Patagônia
Cristina nunca assinou um habeas corpus para prisioneiros do regime. A então advogada prosperou executando hipotecas. Há poucos anos, assessores chegaram a criar um passado “romântico” da presidente, sugerindo que ela foi detida por “alguns dias”.
O encontro de Dilma com os grupos de direitos humanos ocorreria na Casa Rosada, sede do governo argentino. As Mães e Avós da Praça de Maio já homenagearam outros chefes de governo que, no passado, foram torturados, como a chilena Michelle Bachelet (no início do regime militar do general Augusto Pinochet) e José Mujica, do Uruguai, ex-guerrilheiro tupamaro preso durante 12 anos.
Fonte: Gazeta do Povo
31/01

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