terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Empresário de Foz é apontado como intermediador do esquema

Segundo investigação da PF, Alex Hammoud teria feito contato com o fabricante da draga. Esquema teria afundado após discórdia entre envolvidos
Para os investigadores da Polícia Federal, o articulador por trás do suposto esquema de corrupção montado para desviar US$ 5 milhões na compra de uma draga para o Porto de Paranaguá, em 2009, é o empresário Alex Ham¬moud, de Foz do Iguaçu, dono do grupo Unisoft, no Paraguai.
Segundo relatório da operação Dallas da Polícia Federal, obtido com exclusividade pela Gazeta do Povo, Hammoud seria o responsável por intermediar o contato entre as diferentes entidades envolvidas na licitação: empresários chineses e agentes públicos do Palácio Iguaçu e do Porto de Paranaguá.
Ainda de acordo com documento, depois de a Administra¬ção dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) abrir a licitação para a compra de uma draga própria, Hammoud ficou encarregado de contatar a empresa Sawa, representante da Ningbo, fabricante do equipamento. A investigação da PF apurou ainda que o empresário mantinha contatos frequentes com o ex-superintendente do Porto de Paranaguá Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, para garantir que a empresa Global Connection, com sede em Londrina, fosse a vencedora do processo licitatório para que o esquema de desvio de dinheiro saísse como planejado.
A PF acredita que, caso o processo licitatório não tivesse sido cancelado pela Justiça, o empresário faria o pagamento de pouco mais de US$ 23 milhões à Ningbo e dividiria a propina – US$ 5 milhões – entre os envolvidos. Com o entrave judicial, no início de 2010, os supostos envolvidos começaram a desconfiar um do outro. O monitoramento telefônico e de e-mails dos investigados mostra que Daniel Souza suspeitou que Eduardo Requião estivesse negociando um possível esquema de propina com as duas empresas que disputavam a licitação: a Global Conecction, do empresário Gilberto Nagasawa, e com a Interfabric Indústria e Comércio, pertencente ao grego Georges Pantazis.
Alex Hammoud trata disso em um diálogo monitorado pela PF, com autorização da Justiça, no dia 4 de abril do ano passado. Durante a conversa, Daniel Souza diz desconfiar que Eduar¬do Requião tinha acerto com o “Grego”, mas Hammoud diz estranhar sua atitude, uma vez que ele seria o beneficiado com a maior parte da propina de US$ 5 milhões no negócio com a Global.
Depois, os dois cogitam a possibilidade de romper o acordo e direcionar o dinheiro para a campanha de Orlando Pessutti, que na época era apontado como candidato a governador.
“Sempre fui leal, sempre fui leal a ele [Eduardo], mas infelizmente ele jogou fora a amizade e eu não quero mais saber dele, não tenho mais nenhum compromisso com ele. Compromisso agora vai ser com o Pessutti. (...) ele [Eduardo] não precisa mais de dinheiro, ele quer mais di¬¬nheiro, mas ele tem muito, guar¬¬dou muito. Ele quer aproveitar que a draga não desse certo comigo para o irmão, Requião, me tirar do porto”, diz Daniel Souza na transcrição de uma conversa com Hammoud.

Divisão
Segundo os documentos da Operação Dallas, Eduardo Requião receberia a metade da propina prevista de US$ 5 milhões. Os outros US$ 2,5 milhões seriam divididos entre os envolvidos no processo de licitação e que trabalhariam para que a Global Connection vencesse a disputa.
Entre os citados como beneficiados aparecem ainda o próprio Daniel Souza, o presidente da Comissão de Licitação, Jessé Bezerra da Silva, e Maurício Vitor de Souza, ex-procurador jurídico da Appa. Para a Polícia Federal, eles cuidaram dos trâmites da licitação dentro do próprio Porto para que o negócio fosse concretizado.
Dentro do governo do Paraná, a investigação indica como integrantes do esquema o ex-secretário especial do governo estadual e segundo suplente do senador Roberto Requião, Luís Eduardo Mussi, e o então secretário estadual de Saúde e ex-chefe de gabinete do governador, Carlos Moreira Júnior. Os dois representavam o governo e acompanhavam de perto a licitação.
Em outra conversa gravada pela Polícia Federal, no dia 23 de abril, quando o processo de licitação estava em disputa judicial e a Justiça não acatava os argumentos da Global e da Appa para liberar a contratação, o ex-superintendente Daniel Souza, ainda no comando do porto, fala a Luís Mussi que eles deveriam conversar com o proprietário da Global para que ele pedisse um ressarcimento de prejuízos, caso a licitação fosse mesmo cancelada. “(...) a Global vai ter que entrar com uma ação contra o Porto, pedir um ressarcimento aí, do prejuízo (...) a Global tem que entrar na Justiça e o porto compor isso aí, acertar com a Global”, afirmou Daniel Souza, segundo as escutas.
Defesa
Pessuti nega repasse de verba para campanha eleitoral
Citado nas conversas gravadas pela Polícia Federal, o ex-governador do estado Orlando Pessuti nega ter conhecimento de repasse de dinheiro para sua campanha envolvendo o Porto de Paranaguá. Em trecho de uma das conversas, o ex-superintendente do porto Daniel Lúcio de Oliveira de Souza cogita a possibilidade de destinar US$ 2,5 milhões – que seriam desviados da licitação da draga – para a campanha de Pessuti.
Na última sexta-feira o ex-governador disse, por telefone, que conversou com Daniel Lúcio apenas sobre assuntos relacionados ao Porto de Paranaguá, mas nunca sobre qualquer repasse de dinheiro. “Em nenhum momento tratei isso com ele ou com qualquer um que fosse”, disse o ex-governador.
Pessuti afirma ter acompanhado de longe a licitação da draga. Segundo ele, o governador Roberto Requião sempre esteve mais próximo do processo. Apesar da proximidade, Pessuti acredita que o governador não sabia do esquema de desvio de dinheiro da licitação.
Daniel Souza foi afastado da superintendência do Porto de Paranaguá no fim de abril do ano passado, logo após Pessuti assumir o governo do estado no lugar de Roberto Requião, que deixou o cargo para se candidatar ao Senado.

Fonte: Gazeta do Povo

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