domingo, 6 de fevereiro de 2011

Presidente terá de escolher entre opinião pública e pressão interna

A gestão do futuro presidente da Assembleia Legislativa do Paraná será tão ou mais difícil quanto a do deputado Nelson Justus (DEM), que passou pelo pior ano da história da Casa, marcado por diversas denúncias de irregularidades. Justus sai do cargo na próxima terça-feira. Para trás, deixa uma administração que avançou com a implementação do painel eletrônico e a instalação da TV Sinal, mas que foi omissa nas questões de corrupção. Caberá ao novo chefe do Poder Legislativo driblar a resistência dos próprios parlamentares e dar o próximo passo: o da transparência real no gasto do dinheiro público e do fortalecimento da imagem da Casa.
Se não houver sobressaltos, o deputado estadual reeleito Valdir Rossoni (PSDB) assumirá o cargo máximo na Assembleia. Dois dias antes da eleição da Mesa Executiva, a Gazeta do Povo ouviu deputados estaduais de diferentes partidos que opinaram sobre as dificuldades e os desafios com os quais o tucano vai se deparar.
Nenhum parlamentar quis comentar abertamente a missão do futuro presidente. Mas, com a garantia de que teriam os nomes preservados, os parlamentares foram unânimes ao afirmar que Rossoni terá de provocar mudanças na administração da Casa e por isso, inevitavelmente, vai gerar conflitos com uma ala de deputados que fez carreira dentro de um Poder Legislativo acostumado a atuar nas sombras.
Eles concordam que o tucano vai ter todo o apoio do governador Beto Richa (PSDB), mas não terá a unidade que Justus mantinha entre os parlamentares. “Unidade nós sabemos que ele não vai ter. O Rossoni terá de decidir: ou ele fica de bem com a sociedade organizada, com os formadores de opinião e com uma parcela dos deputados, ou se alia a velhas raposas que continuam tentando exercer poder na Assembleia”, comentou o parlamentar.
Interferência
Além da resistência interna, Valdir Rossoni terá de lidar com a interferência do Executivo na atividade parlamentar. Segundo outro deputado ouvido pela reportagem, a eleição de Rossoni só se tornou viável devido à interferência direta do governador Beto Richa (PSDB) no processo eleitoral. Ele contou que houve uma reunião entre o governador e alguns deputados para discutir a indicação. “Ele foi eleito pelas mãos do governador. O Durval [Amaral, hoje secretário da Casa Civil] era para ser o presidente, já tinha quase todos os votos. Foi quando o Beto [Richa] reuniu o [Alexandre] Curi, Durval [Amaral], e o Hermas Brandão [ex-deputado e conselheiro do Tribunal de Contas] para pedir apoio a eles. Pediu para que esse grupo concordasse com a ida do Durval para o governo porque ele já tinha se comprometido com os deputados. O Beto pediu para o grupo que apoiava o Durval apoiar o Rossoni”, disse o parlamentar. “Os parlamentares estão votando nele (Rossoni) para ficar de bem com o Beto Richa”.
Passado
Essa não será a primeira vez que Valdir Rossoni integra a Mesa Diretora da Assembleia. Ele já ocupou o cargo de 1.º secretário na gestão do ex-presidente Hermas Brandão. Para alguns deputados, o fato de o tucano já ter estado perto do “poder” na Casa dá a ele uma parcela de responsabilidade nas denúncias de contratação de funcionários fantasmas em gestões anteriores. “Ele foi, no mínimo, omisso, como a atual mesa”, opina um parlamentar. Apesar disso, alguns deputados acreditam em mudanças radicais, com o apoio dos parlamentares novatos e dos políticos comprometidos com a seriedade na vida pública.
As mudanças, no entanto, terão um preço. “Prevejo um ano de guerra interna dentro da Assembleia. Não vai ter como manter, por exemplo, os mais de 20 parentes do Sérgio Monteiro que estava com o Justus, no gabinete da presidência. Quando começar a combater isso vão contra-atacar”, avalia um deputado do PMDB.

Para todos os parlamentares ouvidos pela reportagem, Rossoni tem capacidade para provocar uma ruptura enérgica na forma de administrar a Casa. O que pode atrapalhar ele nessa missão, contam os deputados, é o perfil do tucano – citado como fechado e de temperamento forte – e forças muito fortes, tanto internas como externas.
Procurado pela reportagem, Rossoni preferiu não conceder entrevistas antes da eleição da Mesa Executiva. Disse apenas que sabe da necessidade de mudanças na administração da Casa e que, se eleito, “vai trabalhar em consonância com a sociedade civil e rigorosamente dentro da lei”.
Fonte: Gazeta do Povo
30/01

Nenhum comentário:

Postar um comentário